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Entre a estrada e o porto, a vida.



segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Escola e celular

Quando o primeiro celular surgiu, ele tinha uma única finalidade, permitir que a comunicação a distância entre as pessoas independente dos cabos, os telefones fixos. A novidade a principio limitada e com as deficiências próprias de uma tecnologia em construção, facilitou a vida dos primeiros sortudos e afortunados que podiam pagar pelos serviços.

O avanço tecnológico e a genialidade dos engenheiros aliado ao senso criativo e a visão além do alcanse de alguns homens permitiram aos celulares ganharem novas ferramentas e possibilidades. As mensagens d etexto foi a primeira delas. Um aviso, um recado, um olá poderiam ser transmitidos de forma suscinta e principalmente econômica.

Estas evoluções se ampliaram ao ponto de que hoje os celulares tem mil e uma utilidades, fazendo surgir o bordão “os celulares até servem para fazer ligações, pensamento comum aos que, como eu,( ainda vêm o telefone celular como um instrumento de comunicação). Hoje, com a internet móvel, os celulares conectam o usuário às redes sociais, integram serviços como televisão, player de audio e video, computador de bordo, maquina fotográfica... e, em um momento ou outro, as pessoas usam para falarem por meio de ligações.

Analogicamente falando, podemos ver a escola sob a mesma ótica dos celulares, com algumas significativas diferenças. A escola já considerada desnecessária, nasce no Brasil sob os auspícios da igreja, mais interessada na disseminação da fé e tradições católicas que propriamente na disseminação do conhecimento e, portanto, limitada.

Assim como os primeuiros celulçares, a escola original era para poucos, dispendiosa, e também falha. Mas os tempos mudam, a sociedade muda e a escola também. Democratizada e laica, a escola passa a ser ítem obrigatório no seio da família, o acesso a mesma confere não apenas conhecimento, mas significa manutenção de benesses financeiras e sociais, como bolsa família, bolsa escola, e outras pragas assistencialistas em voga.

O engenheiro ao pensar no celular e suas possibilidades, desenvolveu um produto que aliava atratividade esteética com funcionalidade e claro, desempenho. As máquinas ganharam agilidade, eficiência, design. A escola, de igual modo, embora de forma torta, também se tornou o achado de muitos organizadores que tiveram a brilhante idéia de dar-lhe diferentes funções. Por que apenas eninar conteúdos? Por que apenas dar acesso ao conhecimento? A sociedade é carente de outras coisas como creches, clinicas, diversão e laser. E, por que nãojuntar estas funcionalidades à escola? E foi feito.

Diferente dos celulares, a escola tinha uma vantagem para os governantes.... não era preciso grandes mudanças e em muitos casos, mudança nenhuma na estrutura física das unidades escolares para que estas desempenhassem as novas atribuições. A escola era, por si só, smart (fone) capaz de conhecer e reconhecer as funcionalidades instataneamente. Seus mecanismos de busca, os professores, procuravam novos meios e recursos para se adaptarem aos novos programas inseridos a revelia.

É assim que a escola se torna a nova creche, mmudando um paradigma social. Antes disso, os pais reclamavam quando não havia aulas porque seus filhos seriam prejudicados no quesito aquisição de conhecimento, hoje, a reclamação, quando não há aula por este ou aquele motivo é... “como assim??? Com quem vou deixar meu filho?”. Mas porque parar na creche, a escola pode ser também um importante espaço psiquiátrico. A sociedade mdoerna tem muitos problemas, está se desestruturando e nem todos tem condições de arcar com custos de tratamento psicológico. A solução... a escola. Um rápido upgrade e pronto, professores devem agora estar atentos aos alunos não apenas nas suas deficiências cognitivas, mas principalmente, nos seus desvios de conduta, atentos aos menores sinais de psicotismo, antenados com os sentimentos dos alunos, auxiliando-os nas suas deficiências emocionais e carências afetivas.

Mas se os celulares tem jogos, a escola não fica atras. Como centro de socialização de crianças e jovens, ela deve se colocar como opção de diversão para os mesmos. Não deve fechar nunca, aberta 24 horas se possível dando acesso a esporte, musica, cinema, dança, pintura.... ai pensamos... destrutiram a escola anterior e reconstruiram (é assim que fazem com os celulares.... modificam suas estrutura quando novas funcionalidades são incrementadas ou adiconadas) mas não... afinal, a escola é muito melhor que o celular esqueceram... ela é econômica e não exige modificações estruturais para atender novas demandas. O que domina então é o improviso. Salas com TNT (não a dinamite, o tecido) preto cobrindo janelas se tornam em salas de projeção e alunos vêm filmes sentados no chão ou, quando muito, nas cadeiras trazidas das salas de aula. Os demais olham isso e dizem “vejam só.... que bonitinho, a escola não tem meios mas mesmo assim... realizam” depois vão embora.

Alunos tem que correr em espaços abertos empoeirados sob o calor a pino ou com chuva correndo atras de uma bola sem qualidade adquirida com os parcos recursos destinados ao desporto escolar.Quando chega aqui, neste ponto. Já estamos como o Raul, pedindo para o trem parar porque a ãncia é de saltar fora. Mas... ainda tem mais, afinal, estamos apenas no inicio da interminável lista de novas atribuições da escola.

Bom.... escola é sala de aula... é professor. Mas engana-se quem pensa que o professor apenas ensina. O professor educa. E ai está a grande armadilha escondida nas entrelinhas. A cilada para os incautos e sonhadores. Quando ensinávamos, ensinávamos algo a alguém. Notaram a especificidade? Mas acharam pouco e resolveram que devíamos educar. Alguém reclamou? Eu não ouvi. Em tempos onde ainda estávamos nos livrando do estigma de que educação era um sacerdócio (só para lembrar as origens da escola), quando nos instituiram a idéia de que éramos muito mais que ensinadores, eramos educadores, todos adoramos e aplaudimos emocionados com lágrimas nos olhos (éramos tolos, sonhadores e crentes). Mau sabíamos que estavamos colocando sob nossas costas o peso da humanidade. Sim, porque a partir disso, as famílias entenderam que educar era coisa da escola, os filhos podiam ser malcriados, quase infratores mas a escola tinha que lhes colocar nos trilhos. Se o aluno chinga, esperneia, detrata, desrespeita, a culpa não é da omissão da família, nem dos governos, é da escola que não está cumprindo o seu papel.

Eu já tive um “tijolão”... as vezes nem falar com eles eram possível, o sinal era horrível e em certos lugares era necessário malabarismos para que os ditos funcionassem. Mas havia algo por tras dos celulares que fazia a diferença... interesse. Os celulares representavam lucro, retorno e com isso, mereciam investimentos. E tiveram.investiram em torres de transmissão, investiram em distribuição (hoje já temos mais celulares que habitantes no país), investiram em tecnologias, em design, em funcionalidades, e em engenharia de ponta de modo que as companhias telefônicas são hoje um dos investimentos mais lucrativos.

Ai... olhando para a escola, percebo que a mesma sequer permite o uso de celulares... perturbam as aulas, tiram atenção... também... com a falta de educação dos alunos. Ops... mea culpa.

Eu havia dito que tive um tijolão, que eu usava para conversar de modo mais prático. Mas eu também tive outra escola, outra educação e, sem medo de ser taxado de velho, retrógrado e conservador, vejo, entristecido, que não em poucos momentos, me pego saudoso de uma educação que lutamos para desconstruir, mas que perdeu, em meio a multiplas funcionalidades que lhe foram impostas, o significado.

Mas... pelo menos hoje a educação não é mais um sacerdócio. É uma penitência, abrindo a todos os professores caminho direto ao céu.

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