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quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Mídias na Educação.É bom por quê?

Resumo

Trabalhar com mídias e tecnologias na escola tornou-se palavra de ordem quando da implantação do programa de informática educativa no Brasil e em especial em Goiás. A palavra inserção nunca esteve tão em voga quanto nos nossos dias. No contexto da formação, questões como Por que? Como? Quando? Devem ser feitas, analisadas, e respondidas. O trabalho de formação em prática nos centros de formação tecnológica NTE, tem, ao longo destes dez anos de atuação, a oportunidade de analisar criticamente esta nova perspectiva da educação. Lançar um olhar sobre o fazer do formador, analisando seu objeto de trabalho, o professor e sua prática torna-se essencial para definir as políticas de formação a ser seguida pelos núcleos nos próximos anos.



Palavras-chave

Educação. Tecnologias. Formação. Mídias. Pedagogia





Traçamos os rumos da educação no nosso dia-a-dia e, na maioria das vezes, nem mesmo sabemos que o estamos fazendo. Este ato de fazer sem refletir sobre o fazer leva-nos a sermos mais guiados do que verdadeiramente guiarmos. Enquanto professores, somos orientados a ensinar segundo esta ou aquela concepção de aprendizagem, a seguir este ou aquele ou este e aquele programa educacional. Com a inserção de mídias e tecnologias na educação, vemos a reprise dessa sistemática. É neste contexto que cabe uma reflexão sobre a importância de não apenas fazer, mas registrar o feito, podendo assim refletir sobre ele.

Vivemos de experimentar, e experimentamos sempre. Como professores, estamos sempre em busca do novo, mesmo que reciclado. A novidade move o mundo e as pessoas. É assim que vimos na modernização dos meios de tecnologia e sua democratização traduzida na acessibilidade às massas a possibilidade de a usarmos como aliada na difícil tarefa de ensinar.

Queremos ensinar melhor, todo professor busca isso com seus alunos, seja qual for sua disciplina ou área de atuação. Por vezes nos sentimos como malabaristas tento que nos virar nos trinta para conseguirmos manter a atenção dos alunos pelo menos por trinta dos escassos quarenta e cinco minutos que temos para ensinar um século de história, por exemplo, ou uma fórmula matemática.

Nossos alunos estão cada vez mais dispersos, hiperativos. Isso é compreensível, o mundo está assim e, as tecnologias são, em grande parte, responsáveis por isso. Cartas não demoram mais dias para serem entregues. Notícias do outro lado do mundo são transmitidas em tempo real a internet se encarrega de transformar o mundo num grande reality show onde somos todos ao mesmo tempo observadores e observados.

Os dias continuam tendo as mesmas 24 horas de sempre, mas para a geração com trinta anos acima, a sensação que fica é a de que estamos sendo lesados em nossos preciosos minutos.

O mesmo aparato que deveria nos fazer ganhar tempo e com isso, qualidade de vida, nos atrapalha, nos lesa. A dona de casa que antes gastava horas no tanque esfregando suas roupas agora pode deixá-las tranquilamente na máquina e, fazer sua leitura, ensinar o filho, receber a visita com calma... ledo engano. Enquanto as roupas chacoalham na centrífuga, há mil outras coisas na fila de espera para serem feitas.

Na escola o caso se repete. No portão, catracas eletrônicas, nas salas de aula, retroprojetor, televisor, computador, projetor de mídia. Nas mãos dos alunos, celulares, mp3, ipod... no pátio, rádio. Nas paredes, murais, jornais, informativos. Estes são recursos com dos quais vislumbrávamos em nossos melhores sonhos e, eles agora estão entre nós, e nem dos demos conta disso.

Aquele tempo que sonhávamos que viria isso e aquilo para nos ajudar da árdua tarefa de ensinar finalmente chegou e, não foi a nossa salvação, pelo contrário, para muitos, foi o caos, a derrocada final.

Ainda estamos num período de transição. Nele, a semente está sendo plantada. Para os cultivadores, aqueles que estão envolvidos com o processo de disseminação da semente que aponta para a prática de uma nova educação, que associe mídias e tecnologias no contexto escolar, ou seja, trazer o mundo para a escola, para a sala de aula, fica a aflição pela ausência de maiores resultados e isso de forma imediata.

Este fruto não é para estes dias. Falando assim, parecem palavras proféticas que lançam para o futuro aquilo que já poderia ser realidade hoje. No entanto, o casamento entre tecnologias da comunicação e informação com a educação, no nível que visualizamos, tem que passar por um processo de aculturação do professor. Estas mídias e tecnologias tem que primeiro passar a fazer parte de suas vidas cotidianas, perdendo o caráter de extrema novidade e, com isso, de estranheza, para se tornar algo familiar.

O que temos visto hoje são ações que classificamos como “experiências de sucesso”. Mas o projeto de inclusão de mídias e tecnologias nas escolas é todo ele uma grande experiência. E acredito que, mesmo com os percalços, ela toda está sendo positiva. Isso porque não podemos nos esquecer de que estas tecnologias expressas na forma de computadores e celulares principalmente, ainda não são uma realidade para todos e a escola se apresenta como um espaço de democratização do acesso a estes equipamentos.

A busca por resultados pode, a primeira vista, frustrar os formadores, encarregados de formar os educadores para o uso destes equipamentos e, incentivar seu uso com os alunos nas escolas. Esta frustração pode ser expressa em números. No último encontro de professores dinamizadores realizado pelo Núcleo de Tecnologia Educacional de Goiânia foi proposto às escolas que apresentassem resultados obtidos com o uso de mídias e tecnologias por seus professores e alunos. De um total de 130 escolas, quatro projetos foram garimpados.

Estes dados mostram uma realidade que não é apenas de Goiânia, mas uma expressão geral. O que temos são casos isolados de ações conseguidas com o desenvolvimento de projetos. Isso contudo não significa que os laboratórios de informática não estejam sendo utilizados, que os professores não levem seus alunos para as salas informatizadas ou utilizem outros aparatos tecnologias em sua prática pedagógica, revela apenas que ainda não existe a cultura da sistematização de resultados. Os Núcleos de Tecnologias, preocupados que estão com a formação e com o uso, estão pecando quanto ao registro. Dez anos de trabalhos diretos com a escola e ainda não é possível apresentar dados consistentes além dos expressos em números de formação.

A cultura do uso dos computadores virá com a prática e esta não necessariamente exige formação. Exige abertura, exige ousadia, exige jogo de cintura, exige decisão.

A formação é um elemento importante no processo e não deve ser abandonado, o que necessita ser revisto é a política de trabalho exclusivamente centrado na formação para as mídias. O interesse está em que o professor consiga ligar e operar o computador, a câmera, o celular. A segunda parte da proposta, a que prevê o uso pedagógico, fica ainda em segundo plano, aparecendo aqui e ali na fala e quase nunca na prática.

O formato dos cursos ministrados são uma prova disso. Cursos como Introdução a Educação Digital tem em sua proposta e estrutura a intenção de levar o professor à discussão. O resultado disso é um curso maçante, desmotivador, que não alcança o professor. Isso porque não foi considerado que o professor que procura os cursos oferecidos pelos centros de formação NTE, estão em busca de conhecimentos práticos. Num primeiro momento, não está aparente a busca por conhecimentos que permitam que ele trabalhe pedagogicamente e sim fazendo a associação entre o seu objeto de trabalho, o conteúdo a ser ministrado e, tendo nos recursos disponibilizados pelas tecnologias um meio para se chegar aos seus objetivos, o que ele busca são conhecimentos que o permita utilizar estas tecnologias para si mesmo.

Ensinamos o pacote, neste caso o Office do Windows ou Linux. E a estrutura dos cursos segue esta mesma dinâmica. No entanto, os alunos em suas casas, nas lan houses ou nos celulares, aprendem de forma contrária. Não partem do Office mas chegam a ele quando utilizam os recursos “interessantes” na internet.

Uma analise da aplicação do programa de formação mostra como ele está engessado. Os conteúdos foram colocados em compartimentos, divididos em blocos. Agora o professor aprende internet, mais adiante aprende planilhas e assim sucessivamente. Em contraponto a esta estrutura, podemos apontar a criação, pelos NTE do curso Dinamizado Competências, onde a estrutura foi pensada e organizada para que, a medida que as atividades vão sendo desenvolvidas, ou seja, quando surgir a necessidade, o programa ou função deste ou daquele aplicativo seria trabalhado.

Esta organização mais aberta permite que o conteúdo não aconteça de forma linear, porque na escola, o professor não vai desenvolver seu trabalho linearmente.

Considerando estas observações, a pergunta que cabe fazer inicialmente é:

Trabalhar com mídias é bom?

Não vai existir um consenso em torno desta questão. Mas o que inegável é manter a concepção da escola Oasis, refúgio do mundo externo. A escola reflete a sociedade e cabe a ela uma grande parcela de formação da sociedade que virá. Neste aspecto, o mundo tem que entrar na escola, tem que ser visto e discutido e a internet, a TV, os celulares, os livros, são janelas que permitem esta entrada em tempo real aos alunos.

Alie-se a isso o fato de que educar é uma ação contextualizada, e voltada para a formação integral do aluno. Não trabalhar com os recursos próprios de nosso tempo é privar o aluno, principalmente o de escolas públicas, de oportunidades.

Além disso, é inquestionável o poder atrativo que estes recursos tem sobre os alunos. E aqui voltamos ao professor malabarista, querendo a todo custo ter o foco da atenção dos alunos. Neste aspecto, as possibilidades de trabalho nos LIE, no pátio da escola e claro, na sala de aula, tornam-se excelentes aliados que não podem ser negligenciados.

Por outro lado, buscando a atenção pode se chegar a dispersão total. Percebemos isso quando não há um planejamento eficaz, quando não existem objetivos bem definidos, quando o planejamento não contemplou atividades de modo a preencher o momento de estudo. Mas este é um aspecto negativo não propriamente das tecnologias em si, mas de quem as utiliza. O lúdico não pode sobrepujar o objetivo primeiro que é o de ensinar.

Ai chegamos numa segunda questão:

É bom para mim?

Com esta questão temos um dos grandes entraves da utilização de mídias e tecnologias na educação, a falta de interesse dos professores com relação as mesmas. Este descaso é traduzido na palavra resistência. Todos aqueles que são avessos à formação nós os tachamos de resistentes, e ainda complementamos com a palavra medo. Esse professor deve se perguntar, mas e ai, o que tenho a ver com isso? Afinal, não é imperativo que o professor utilize estes recursos em suas aulas. Excelentes professores dão excelentes aulas utilizando a mais primária das tecnologias em sua prática, a lousa e o giz, alcançando resultados melhores que aqueles que se enveredam pelo mar da web e seus recursos, por exemplo.

Essa postura nos força a trazer uma nova questão:

É bom para o aluno?

Neste caso, o que deve ser levado em conta é que, em se tratando de professor e, por isso mesmo responsável por educador nos moldes anteriormente mencionados, não posso deixar de propiciar aos alunos contato com estes recursos. Pode não ser interessante para mim, as redes sociais, mas os meus alunos vêem estas como a ultima maravilha do mundo e, se não vou ensinar-lhes a utilizá-las, tenho que conhecê-las para, dentre outras coisas, utilizar o ensino reverso, ou seja, apontar pros e contras, formar opinião, discutir sobre.

O resumo disso é que, utilizando ou não os recursos tecnológicos, enquanto professores, não podemos nos esquivar de conhecê-los. E é neste ponto que revertemos o foco da formação. Aquela formação voltada para o conhecer sobre, para saber utilizar, dá lugar a formação que mostra o por quê? O para que? E o como?

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