Recentemente descobri, da pior maneira, que inevitavelmente o mundo hoje é de quem tem e isso em todos os setores. Acreditava-se (pelo menos eu acreditava) que apenas nas grandes empresas privadas é que residia o medo de ser sobrepujado pelo colega mais jovem ou aquele sabe tudo.
Nós, meros mortais atuando na educação de base, estávamos isentos desta prática desumana, própria do capitalismo selvagem. Ledo engano.
Na verdade, só está isento deste mau presságio aqueles que estão placidamente instalados em sua colocação atual, professor de sala de aula com turma definida, vinte e tantos anos numa escola na coordenação ou sala de aula, olhos postos na aposentadoria que deve chegar antes da hosteoporose e por ai vai. Para começar é preciso desmistificar a idéia de que professor não tem ambição ou antes, o que ambicionar. O mercado da educação é grande e pode sim, ser lucrativo. importantes professores quando não tem (dinheiro), tem prestígio e reconhecimento, o que de longe, é algo a se almejar.
Assim, restrinjo atualmente o grupo dos placidamente sentados aos parasitas da educação, aqueles que são um atraso de vida e uma vergonha para os educadores. Estes não estão nem ai com a morte da bezerra, desde que isso não atrase o seu pagamento.
Prefiro me referir aqui aos professores que vêm na educação mais que um ganha pão, um paga contas, mas uma profissão na qual se pode crescer, pessoal e financeiramente.
Mas deixando o panejerico de lado e voltado à minha indignação, que começa de mim para comigo mesmo, pois como disse um dia minha colega Socorro vindo em minha direção, "tem gente que precisa de uma sacudida" e muitas vezes (no meu caso foi uma delas) esta sacudida vem de uma pretenção. Sei, este verbo não existe na conotação que eu quero, coloquei-o apenas para tapar minha ignorância súbita ao não ter com o que aludir ao fato de ter sido preterido em um processo seletivo. E é aqui que chegamos aos fatos, ou antes, o fato.
Antes... um flash back.
Eu, no auge dos meus trinta e sete anos, no vigor de minha produção intelectual, estava placidamente sentado em minha condição de professor estável, olhando calmamente o mar revolto a minha volta sem me atinar com o me dá cá esta palha. Não me entendam mau, não sou acomodado. Leio, escrevo, desenho, modelo, ministro aulas fantásticas, palestro... ou seja, estou em movimento (contraditório pois isso me tira da cadeira plácida) mas a questão é que, eu era, mas não tinha. Eu era o cara. Boa fala, boa oratória, presença de palco, desenvoltura, conhecimentos... mas eu não tinha. O quê? pelo amor de Deus, você já deve estar impaciente e louco para me dar na cara, mas calma, não era um pistolão, afinal, nós professores temos que ser éticos. Eu não tinha título.
Pois é. Sei que é preciso muita coragem para dizer isso assim, na rede mundial, para todo o universo (os Ets capitam nossos sinais) mas... eu tinha que desabafar. Eu sou um sem título.
Não, eu votei, estou em dia com minhas obrigações eleitorais. Não é deste título que estou falando. Me refiro aos benditos títulos acadêmicos.
Sou de um tempo, de uma cultura, de um lugar, de uma realidade em que saber ler e escrever era um grande trunfo. Onde, numa família de sete, dez, doze pessoas, se alguém "tirasse" o segundo grau, era doutor. E aprendi, desde então, que as conquistas, todas elas, tem muito valor, para quem conquista e para quem observa e se alegra contigo. Meu pai semi analfabeto era um deles. Quando conclui a faculdade pública de História e enviei o convite de formatura à minha família... nunca vi uma brochura ser tão paparicada. Meu diploma não teve tanta importãncia quanto aquelas páginas nas quais se liam "...Convidam o Sr. e Sra para a formatura de seu filho". Se procurar no fundo da caixa de tesouros da família (que espero herdar um dia) com certeza ele será encontrado, catalogado como bem mais precioso.
No entanto, isso foi um outro tempo, uma outra história, um outro contexto. Hoje, apesar das dificuldades, mas comparativamente à época, se tornou comum ter ensino superior. Ser especialista tornou-se então o diferencial e, a primeira peneira para os plácidos.Na verdade seria a segunda, mas a obrigatoriedade de se ter o ensino superior para exercer o magistério fez com que a primeira estação, o Ensino Médio, ficasse para tras.
Especialista... fiz a minha seis anos após a graduação... muito caro para se pagar. e neste ponto devo falar da sorte de estar no lugar certo, na hora certa. Felizmente, no meu caso, pude fazer a especialização por uma instituição pública a lá zero oitocentos (não, eu não me esqueci que os meus e os seus impostos foram quem os pagaram) mas, inegavelmente, eu não conseguiria economizar para pagar as mensalidades (sei disso porque eu tentei, os registros da Universo estão ai para provar). E, assim como eu, muitos não o fazem pelo mesmo motivo.
Assim como na moda os termos enstão constantemente mudando, uma prova disso é que eu usava 40 e hoje, sem engordar nada de nada, tenho que comprar 42. A importância dada aos títulos segue o mesmo caminho. As portas que a especialização abria agora mal permitem dar uma espiada. O caminho agora é o mestrado. E é neste ponto que me enganchei, ou antes, me guincharam. Para fora.
Quando digo que estou indignado, não me refiro apenas ao sistema que pretere um profissional pela ausência de títulos que ele tem. Mas gostaria muito de acreditar que ter o título signifique ter conhecimentos que o justifique, ou melhor, que o endosse. Mas meu senso crítico e a experiência me diz que não, isso não confere.
Mas fui sacudido. E este sacudir me mostrou e agora estou tentando mostrar a você, que é importante se mexer. Se o mestrado é o caminho... então que comecemos a buscá-lo, ou mais portas vão se batendo nas nossas caras e convenhamos, que coisa desagradável. Sim, por que eu não sei quanto a você, mas todos os educadores e educadoras que se acham "O Cara", como eu, caem em profunda depressã e enchem a cara de leite desnatado por uma semana quando um troço desses acontece com ele.
Pior ainda quando a porta nem é lá estas coisas. Ai sim, você percebe que precisa fazer alguma coisa e... este é um momento muito importante. É como se uma Nurf olhasse para você e você fosse o escolhido tendo um insight. Não entendeu? Leia o rodapé.
Se em empresas ou escolas, continuamos profissionais. A diferença está no modo como visulizamos a nós mesmos e nosso próprio trabalho ou, antes, o modo como querem que olhemos para nosso trabalho. Como dizem os gurus da auto ajuda, "Você quer ser pequeno, ou você quer ser grande?"
Eu escolho ser enorme e, se para isso preciso ter... terei. Mas eu valerei o quanto tenho.
Rodapé.... Nurf. Personagem do filme A dama na água de M. Night Shyamalan
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